VIESES COMPORTAMENTAIS DO INVESTIDOR
OS PRINCIPAIS VIESES COMPORTAMENTAIS DO INVESTIDOR E COMO EVITÁ-LOS
Neste artigo o pessoal da Financia Company explica quais são os viéses comportamentais dos investidores ao tomar decisões na Bolsa de Valores, confira!
O que são vieses comportamentais?
Para tomar uma decisão financeira, os investidores buscam analisar as opções de investimento disponíveis, a relação risco retorno de cada tipo de investimento e utilizam conhecimento técnico que possuem sobre finanças para que possam tomar a decisão mais racional possível.
No entanto, por meio da publicação do influente artigo elaborado por Tversky e Kahneman (1974), os autores demonstraram que muitas decisões importantes são baseadas em um número limitado dos chamados “princípios heurísticos”, que nada mais são do que atalhos mentais, que servem para agilizar e facilitar o processo de tomada de decisão, porém que podem nos induzir a julgamentos que se desviam da racionalidade e consequentemente nos levam a decisões equivocadas. Esses erros de julgamento são os chamados “vieses comportamentais”.
Sabendo que os vieses são capazes de conduzir os investidores a decisões errôneas que são tomadas de forma quase que automática, listamos nesse texto os principais vieses comportamentais que podem afetar negativamente o processo decisório do investidor. Isso porque, o primeiro passo para evitar que os vieses façam parte da sua tomada de decisão é conhecê-los.
1. Viés do senso de controle (Excesso de Confiança)
Ocorre quando os investidores caem na armadilha de superestimar suas habilidades de investimento ou atribuir peso demais à sua intuição. Este viés causa momentos em que, por exemplo, o investidor opta por se expor exageradamente à algum ativo devido a sua certeza que seu preço irá subir. Porém, quando se trata de investir, não existe bola de cristal e é impossível saber com certeza os rumos do mercado. O excesso de confiança afeta nossa capacidade de tomar decisões de investimento sólidas com base nos fatos em questão.
Existem evidências científicas de que investidores com excesso de confiança negociam com mais frequência e não diversificam adequadamente seu portfólio. Essas descobertas são importantes, pois é preciso considerar que é essencial manter uma boa diversificação para diminuir o risco que todos estão sujeitos e que investidores que fazem muitas e frequentes negociações tendem na média a ter rentabilidade inferior aos que operam pouco.
Para que este viés não te atinja, é preciso lembrar que toda negociação que está prestes a fazer devido a sua convicção, seja uma operação Long ou Short, existe alguém por trás dela acreditando exatamente o oposto do que você acredita. É preciso sempre reavaliar com cuidado os riscos da operação e combinar informações de diferentes fontes durante suas análises.
2. Viés da Confirmação
O viés da confirmação está diretamente relacionado ao excesso de confiança. É basicamente o ato do investidor analisar apenas as informações que atestem e confirmem sua opinião formada sobre determinado ativo. O investidor ouve apenas os analistas e amigos que concordam com ele e ignora os que discordam, além de ignorar os riscos que envolvem determinado investimento, analisando apenas os pontos positivos.
Este viés faz com que o investidor procure apenas por informações que apoiem suas crenças iniciais e ignore ou atribua menor peso às informações que as contrariam. Assim como comentado no viés anterior, umas das maneiras de superar esse viés é considerar informações de várias fontes. Além disso, é recomendável que o investidor sempre esteja aberto a opiniões contrárias, para saber os motivos que elas possuem e considerar essas informações antes de tomar uma decisão.
3. Aversão a perda
Se trata de um dos vieses mais conhecidos pelos investidores. Este viés considera que as pessoas tendem a sentir mais a dor da perda do que a alegria dos ganhos. A aversão à perda leva à negatividade, o que faz com que os investidores deem mais importância às más notícias do que às boas.
Uma das consequências comuns de pessoas que se deixam levar por este viés, é quando o investidor possui determinado investimento que vem lhe dando prejuízos há algum tempo e mesmo que esse prejuízo seja justificável pelas novas informações que surgiram depois ou novas e melhores oportunidades de investimento surjam, o investidor opte por insistir no investimento na esperança de reverter suas perdas.
Além disso, o viés pode causar problemas mesmo em situações de rentabilidade positiva. quando o ativo investido está em uma posição de ganho, o investidor busca a satisfação imediata do lucro, vendendo tudo e muitas vezes deixando de ter um retorno ainda maior no longo prazo, devido ao medo de perder o lucro que possuía.
Como forma de evitar estar sujeito a este viés, é recomendável sempre discutir com outros investidores sobre as expectativas do mercado e o gerenciamento das emoções durante as recessões e crises. Também é necessário sempre reavaliar suas posições e se ater ao custo de oportunidade, de modo que novas e melhores alternativas que surgirem sejam aproveitadas mesmo que para isso, seja necessário realizar o prejuízo de investimentos anteriores.
4. Viés da ancoragem
O viés de ancoragem é a tendência de se ancorar, ou seja, de confiar demais em uma referência passada ou uma informação ao tomar uma decisão. Muitos estudos acadêmicos na área de finanças constaram o poder da ancoragem na tomada de decisões.
Os estudos normalmente fazem com que as pessoas se concentrem em itens como o ano de nascimento ou a idade antes de serem solicitadas a atribuir um valor a algo. Os resultados revelam que as pessoas são influenciadas em suas respostas, ou ancoradas, no número aleatório em que se concentraram antes de serem questionadas.
Um exemplo clássico que pode ser citado é se você ver um carro que custa $ 50.000 e outro que custa $ 20.000. Você pode ser influenciado a pensar que o segundo carro é muito barato. Por outro lado, se você visse um carro de $ 15.000 primeiro e os de $ 20.000 depois, pode pensar que o carro de $ 20.000 que é caro, devido a estar ancorado na informação anterior.
Do ponto de vista de investimentos, as pessoas podem ficar ancoradas em uma notícia recente que ouviram e desperdiçar boas oportunidades que trariam altos retornos no futuro, ou até mesmo, simplesmente investir nas ações que mais subiram no mês anterior, por achar que o mercado tende a continuar subindo e elas continuaram no topo.
Uma forma de evitar o viés é estar sempre atento e reavaliando seus parâmetros utilizados para avaliar um investimento, pois eles podem ser apenas âncoras e não sejam aplicáveis ao cenário atual.
5. Viés do pensamento de grupo (Efeito manada)
O viés do pensamento de grupo, ou efeito manada, como é mais conhecido, descreve uma tomada de decisão movida simplesmente pelo fato de que outras pessoas fazem (ou acreditam) o mesmo, ou seja, os investidores que se deixam levar por este viés, fazem algo principalmente porque outros investidores estão fazendo, sem fazer sua própria avaliação.
Este efeito, é um processo de pensamento que ocorre quando uma pessoa não quer ficar de fora de uma tendência ou movimento. Só porque o rebanho maior está comprando determinado tipo de investimento, não significa que essa seja a atitude certa para cada investidor, pois, é preciso considerar o seu próprio perfil de investidor. Além disso, o “rebanho”, pode estar completamente errado. As bolhas especulativas são normalmente o resultado do pensamento de grupo e da mentalidade de rebanho.
Para evitar as armadilhas do efeito manada, vale lembrar do famoso poema de Robert Frost, The Road Not Taken, em que ele escreve: “Duas estradas se divergiam em uma floresta e eu, peguei a menos percorrida, E isso fez toda a diferença.” Isso não significa que você deva fazer o oposto do rebanho, significa que se sua análise concluir que você deva seguir o caminho menos percorrido, não hesite.
6. Viés de enquadramento
O viés de enquadramento acontece quando uma pessoa processa as mesmas informações de maneira diferente, dependendo de como ela é apresentada e recebida. Isso faz com que um investidor tenha uma opinião diferente acerca de um investimento dependendo da forma que este lhe é apresentado.
Um exemplo que pode ser usado se refere à uma notícia do resultado de uma empresa que apresenta um lucro líquido de $100 milhões:
- “No 4T a empresa reportou um lucro líquido de 100 milhões, a projeção realizada era de 120 milhões”.
- “No 4T a empresa reportou um lucro líquido de 100 milhões, em comparação com os 80 milhões do trimestre anterior”.
Ambas as manchetes trazem a mesma informação: o lucro de 100 milhões, no entanto, a segunda soa muito melhor. Por isso, é sempre necessário buscar avaliar os investimentos por todos os ângulos, de vários pontos de vistas para que sua decisão não seja influenciada por este viés.
7. Viés retrospectivo
“Eu sabia que isso iria acontecer”. Com certeza você já deve ter ouvido essa frase, ou até mesmo falado. É comum o seu uso depois de algum acontecimento não desejável. Ao olhar para o passado, o investidor tende a achar que os eventos passados eram totalmente previsíveis e óbvios, mesmo que na realidade, os acontecimentos não eram facilmente previstos.
Este viés pode levar as pessoas a concluir que podem prever outros eventos com precisão, fazendo-as cometer erros graves no futuro. Além disso, o viés retrospectivo é um estado de espírito perigoso, pois turva sua objetividade na avaliação de decisões de investimento anteriores e inibe sua capacidade de aprender com os erros do passado.
Uma forma de reduzir o viés retrospectivo é escrevendo suas expectativas acerca dos ativos nos quais analisou. Isso fará com que seu cérebro não consiga te enganar facilmente fazendo você acreditar que já sábia. O viés acontece justamente porque não é agradável reconhecer erros, mas é necessário, o mercado financeiro exige aprendizado constante, e errar pode ser uma boa forma de aprender.
8. Bônus: As emoções
Além dos vieses comportamentais é valido lembrar que o investidor ainda pode ser afetado por diversos sentimentos e emoções que também podem causar prejuízos. Sentimentos como medo e ganância são capazes de transformar os investimentos em simplesmente apostas, nas quais são baseadas puramente em emoção e intuição.
O medo aflige principalmente àqueles que nem começaram a investir e também aos investidores mais conservadores, que por vezes preferem não arriscar em ativos de renda variável. Este medo pode ser avaliado de dois pontos de vista. Por um lado, os protege de perdas e prejuízos que podem acontecer. Por outro lado, limita os ganhos que seriam proporcionados se estivessem algum tipo de exposição à ativos mais arriscados. Com tudo isso, é recomendável que se comece com pouco e aumente sua exposição com o passar do tempo, à medida que adquiri mais conhecimento e mais confiança.
A ambição pode ser avaliada como um combustível no início, pode ser o ponto de partida para o mundo dos investimentos. Com o passar do tempo é preciso sempre tomar cuidado para que a ambição não seja transformada em ganância, pois ela traz a ideia de que nada nunca é suficiente.
A ganância é capaz de fazer com que o investidor faça absurdos para aumentar o seu retorno. O problema principal é que só é visto como absurdo por quem faz depois que dá errado. Então, sempre diversifique seu patrimônio e cuidado para não ser consumido pelas emoções.
Não basta ser extremamente inteligente, possuir um conhecimento técnico sobre finanças e investimentos em um nível elevado, ter a sua disposição as melhores ferramentas e a melhor estratégia de investimento se o fator psicológico for um empecilho. É preciso sempre tentar ao máximo manter as emoções sob controle.
Apesar de tudo isso, nossos mecanismos emocionais e cognitivos trabalham juntos e são praticamente indissociáveis. Há quem diga até que uma decisão baseada na emoção ou intuição pode ser uma decisão tão boa quanto, ou até melhor do que eu uma decisão realizada racionalmente após todo um processo de análise sistematizado. No entanto, é difícil saber se essas decisões certeiras são reflexo de uma boa intuição ou fruto do mero acaso e da sorte.
Encerramento
É praticamente certo que em algum momento já fomos afetados por algum dos vieses comportamentais. Mas como já foi dito no início, o primeiro passo para não ser afetado pelos vieses é conhece-los. Existe uma gama imensa de vieses que podem afetar a tomada de decisão das pessoas, não só no âmbito de investimentos, mas também em outras áreas da vida. No artigo, tratamos dos principais deles.
Ter uma estratégia de investimento bem definida, sem dúvidas, ajuda muito a evitar os vieses. Para isso, construa sua estratégia de modo que se torne um processo analítico bem detalhado, no qual você siga tendo planejado o que fazer diante de cada situação. Dessa forma, você evitaria decisões equivocadas feitas pelo “calor do momento”.
Referências
Abreu, M., & Mendes, V. (2012). Information, overconfidence and trading: Do the sources of information matter? Journal of Economic Psychology, 33(4), 868–881. https://doi.org/10.1016/j.joep.2012.04.003
Goetzmann, W. N., & Kumar, A. (2008). Equity Portfolio Diversification. Review of Finance, 12(3), 433–463. https://doi.org/10.1093/rof/rfn005
Kahneman, D. (2012). Rápido e devagar (1st ed.). Objetiva: Rio de Janeiro, Brasil.
Kahneman, D., & Tversky, A. (1979). On the interpretation of intuitive probability: A reply to Jonathan Cohen. Cognition, 7(4), 409–411. https://doi.org/10.1016/0010-0277(79)90024-6
Tversky, A., & Kahneman, D. (1974). Judgment under Uncertainty: Heuristics and Biases. Science, 185(4157), 1124–1131. https://doi.org/10.1126/science.185.4157.1124